segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Saló ou os 120 Dias de Sodoma - 1975


Este foi o último filme de Pier Paolo Pasolini, inspirado no igualmente extremo livro do proeminentemente extremo Marquês de Sade, escrito em 1785. Foi o mais chocante de todos os filmes de Pasolini, só não mais do que a sua morte, assassinado por um garoto de programa, antes de ver o filme estrear nos cinemas. Por mais que “Salò ou os 120 Dias de Sodoma” toque em poucos dos temas escabrosos do livro, abordou o suficiente para se tornar um dos filmes mais perturbadores da história do cinema, sendo proibido em diversos países.
Há somente uma grande alteração do livro para o filme, que é a ambientação. O original se passava na França do século 18, enquanto o filme foi transportado para a Itália, durante a ocupação nazista, em 1944. Quatro homens poderosos (referidos como “duque”, “bispo”, “magistrado” e “presidente”) fazem algo como uma seleção de jovens moças e rapazes de um vilarejo. Diversos deles são levados para serem “inspecionados”, certificando-se de vê-los sem roupas e conferir se têm todos os dentes. Depois, são todos levados para um casarão, onde se isolam com os quatro homens e quatro velhas prostitutas.
Neste momento, começam os ciclos pelos quais os jovens passarão, um pior do que o outro. Aqueles jovens estão lá para satisfazer os mais perversos fetiches daqueles homens, que irão se inspirar nas histórias contadas pelas velhas prostitutas. Vale ressaltar que realmente se trata de fetiches perversos. Não demora muito até o filme ficar mais perturbador e repulsivo ainda, quando se inicia a pura escatologia. Bem na metade deste circo dos horrores, é quando a maioria dos espectadores irão se mandar, gritando “Eu não mereço isso” ou algo do tipo. Para alguns, é o pior do filme. Mas ainda tem mais.
O último ciclo envolve a tortura física propriamente dita, como se o que ocorrera até então já não fosse suficiente. São olhos arrancados, línguas cortadas, partes do corpo queimadas ou marcadas… Tudo isso é acompanhado por binóculos, já que os quatro homens se alternam em uma janela, assistindo às torturas que acontecem do lado de fora. É como um elaborado fetiche, que mistura voyeur.
“Salò ou os 120 Dias de Sodoma” é bem-sucedido em retratar o corpo humano com algo praticamente sem valor, submisso às piores das perversidades de pessoas igualmente perversas. E nem de longe é pornografia, já que retrata o sexo como algo doloroso, terrível, além de responder de forma cruel a todas as suas formas (somente os quatro homens podem fazer sexo com os jovens, eles não podem se envolver entre si, à pena de morte).
Assim como grande parte dos filmes tidos como “extremos”, realmente não há outros motivos para assisti-los exceto a curiosidade. “Salò ou os 120 Dias de Sodoma” é um retrato explícito do quão ruim e perverso o ser humano pode ser. É o seu pé na realidade que o torna mais assustador ainda. Um atestado traumatizante do que nós mesmos podemos ser.

Ficha Técnica:
Título Original:Salò o le 120 giornate di Sodoma
Direção: Pier Paolo Pasolini
Roteiro: Pier Paolo Pasolini, Sergio Citti, Pupi Avati (não creditado)
Gênero: Drama/Terror
Origem: França/Itália
Duração: 117 minutos

Elenco:
Paolo Bonacelli: The Duke
Giorgio Cataldi: The Bishop
Umberto Paolo Quintavalle: The Magistrate
Aldo Valletti: The President
Caterina Boratto: Signora Castelli
Hélène Surgère: Signora Vaccari
Sonia Saviange: The Pianist
Elsa De Giorgi: Signora Maggi

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